Texto de Manuel Furtado (Director da MUTE):
Nesta mostra Miguel Palma aprofunda várias temáticas que tem vindo a investigar intensamente: a relação entre o Homem e a tecnologia , o território e a comunicação, e finalmente, em grande destaque, o artista/filósofo enquanto adulto que nunca abdicou da sua criança interior. Esta última temática oferece-nos uma frescura que permite a Miguel Palma contagiar-nos com o espanto que só no início da vida sentimos face às coisas mais simples levando-nos a questionar vários preconceitos da idade adulta.
Aquilo que frequentemente rejeitamos como lixo dentro dos computadores que descartamos periodicamente, por exemplo, é uma das matérias primas do trabalho desenvolvido para esta exposição. É assim que somos psicanaliticamente transportados à brincadeira da infância que em vez de nos parecer errática, ganha aqui a qualidade e exigência exclusiva da única saída possível para a angústia existencial de Proust. Em vez da Madalena do escritor e dos cheiros que o transportaram aos momentos mais felizes da sua vida, é-nos oferecido o território perfeito para darmos largas à imaginação, é assim que nos sentimos um King Kong gigantesco manipulador de casas, cidades e alta tecnologia incompreensível e até de pessoas e carros (que inevitavelmente fazemos percorrer o urbano usando a nossa imaginação).
Só a brincar com o olhar é que se torna possível levar a imaginação a um mergulho no que pode nunca ter acontecido ou até que nunca poderá vir a acontecer. De um universo infantil de modelos de carros e comboios eléctricos ao sonho acordado de uma grande cidade num circuito electrónico. É nessa escala que voltamos a encontrar o que há de mais humano em nós: a imaginação. Enquanto motor da criatividade é ela que em alguns se mantém viva e noutros se afoga nas preocupações do quotidiano. É nesse espaço de liberdade que simulamos e ensaiamos vivências, produções e futuros alternativos. Na maqueta está muito mais do que um plano. Porque o modelo dá forma ao mundo que vamos construindo e preenchendo com sonhos, memórias e prazeres.
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Biografia resumida de Miguel Palma:
Nasceu em 1964 em Lisboa, onde vive e trabalha atualmente. Expõe regularmente desde o final dos anos 1980. O seu percurso artístico, de base escultórica, é marcado por instalações produzidas de forma não tradicional. Trabalha frequentemente em grupo com equipas de engenheiros, mecânicos, carpinteiros e biólogos, entre outros especialistas. O seu trabalho tem um carácter híbrido, ligado à produção industrial do século XX. A obra de Palma aborda frequentemente o modo como a tecnologia tem influenciado a vida do homem moderno, a sua relação com o ambiente, a ideia de conforto humano ou a ideia de poder.
Paralelamente à construção de instalações, de grande e média escala, recorre frequentemente ao desenho, ao vídeo, à performance, à construção de miniaturas dos seus projetos e de livros de artista.
Desde 2007 que participa regularmente em residências em diferentes espaços artísticos, tais como: Location One (EUA), International Studio & Curatorial Program (EUA), Headlands Center for the Arts (EUA), Montalvo Arts Center (EUA), Arizona State University Art Museum (EUA), voyons voir | art contemporain et territoire (França), Association Château de Servières (França), 18th Street Arts Center (EUA) entre outras.