23 de Abril a 23 de Maio
A partir de 1930, por influência do cinema, a BD deixa ser exclusiva do género humorístico, aventurando-se e ganhando popularidade com outras temáticas como: farwest, funny-animal, crime, o policial, a ficção científica, etc. levando ao surgimento de algumas revistas tais como: Flash Gordon, Terry and the Pirates e o Tarzan, entre outros, que ganhando a independência dos jornais começam a ser impressas no formato Comic-Books.
Partindo do formato acima referido decidi jogar com esta ideia, criando a “revista” Pharma Comics, cuja temática vem preencher uma lacuna no panorama nacional e internacional da Banda desenhada. Pretendo cruzar o universo iconográfico das ciências médico-farmacêuticas com o imaginário da BD produzindo um conjunto de obras que representam uma reinvenção destas narrativas sugerindo a mortalidade do herói.
Pinto assim o espaço entre a realidade e a ficção, a cor do visível e a cor imaginada. Aproprio-me de imagens pintando figuras normalmente imortais que nestas obras, através dos medicamentos que promovem denunciam a sua mortalidade.
Pedro Almeida, 2015
[Dentro dos vários casos de figuração pop, a Pedro Almeida] não interessa, através da exaltação da cor, sublinhar os atributos dos super-heróis(…). Ao invés de glorificar domínios, expõe vulnerabilidades (…) despojando-os inexoravelmente de todos os vestígios de força.
Luís d´Eça de Almeida
Foi Platão que disse: “A linguagem é um pharmakon”
Este termo ambíguo, de origem grega, pode ter três sentidos: medicamento, veneno ou inócuo. Isto é, pode ser benéfico, maléfico ou indiferente.
Tal como a linguagem pode ser a cura para a ignorância ou meramente destrutiva, também o fármaco pode ter efeitos benéficos ou até levar à morte, assim como o herói da BD pode eliminar o medo dos outros ou trazer inquietação.
O herói que conhecemos e que acompanhamos nas suas várias incursões pelos mais diversos mundos e submundos, não necessita de alimento, não tem sede, nem sequer tem receios, mas … (quiçá) necessita de um fármaco.
Pela alquimia das linhas e manchas cromáticas da paleta de Pedro Almeida, estes heróis tornam-se, momentaneamente, frágeis e debilitados como um simples e mero ser humano.
As páginas arrancadas de uma nova revista de BD, que aglutina o universo da banda desenhada e da Farmácia, estão agora suspensas nas paredes deste espaço e mostram-nos os heróis em busca do alívio da sua dor, apesar de continuarem audaciosos e sem nada a temer.
O fármaco, o medicamento, a droga, o remédio são portanto a consubstanciação dos problemas existenciais e corpóreos destes seres que representam as nossas aspirações.
Hilda Frias, 2015
Pedro Almeida vive e trabalha em Lisboa e nasceu em 1966 na República do Congo.
Mestre de Pintura pela FBAUL, Licenciado em Pintura pela mesma faculdade e em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.
Desde 2014, integra os artistas residentes da Galeria [CINCO] CONTEMPORARY ART/SITE SPECIFIC, Cidadela Art District, Cascais, com a exposição individual The Tongue Project. Apresentou a exposição itinerante ´´Flesh and Steel“, exibida durante o ano de 2014 em 4 cidades. Está representado em algumas colecções particulares como: Isabel Vaz Lopes, Fundimo, Museu Bernardo, Sandro Resende e na C.M. de Sintra.