3 Novembro a 2 de Dezembro de 2016

 

Nesta mostra Miguel Palma aprofunda várias temáticas que tem vindo a investigar intensamente: a relação entre o Homem e a tecnologia , o território e a comunicação, e finalmente, em grande destaque, o artista/filósofo enquanto adulto que nunca abdicou da sua criança interior. Esta última temática oferece-nos uma frescura que permite a Miguel Palma contagiar-nos com o espanto que só no início da vida sentimos face às coisas mais simples levando-nos a questionar vários preconceitos da idade adulta.

Aquilo que frequentemente rejeitamos como lixo dentro dos computadores que descartamos periodicamente, por exemplo, é uma das matérias primas da obra Electronic Human Scale. É assim que somos psicanaliticamente transportados à brincadeira da infância que em vez de nos parecer errática, ganha aqui a qualidade e exigência exclusiva da única saída possível para a angústia existencial de Proust. Em vez da Madalena do escritor e dos cheiros que o transportaram aos momentos mais felizes da sua vida, é-nos oferecido o território perfeito para darmos largas à imaginação, é assim que nos sentimos um King Kong  gigantesco manipulador de casas, cidades, alta tecnologia incompreensível e até de pessoas e carros (que inevitavelmente fazemos percorrer o urbano usando a nossa imaginação).

O planeamento de um Aeroporto e a “planificação” do avião metálico em miniatura, refiro-me a Coordenadas, sugerem-nos a relação íntima entre o lado lúdico da vida e a experimentação. A projecção destas miniaturas nos altos voos de aviões reais trazem-nos preocupações com segurança, como em Safety Heaven, porque voar anda de mãos dadas com o sonho mas a altitude também provoca vertigens e a velocidade necessária ao voo também acarreta perigos óbvios. Mas não é só no mundo aéreo que encontramos riscos, na “linha férrea” de madeira, por exemplo, descobrimos que até na nossa infância o mundo foi atacado, as árvores, estações e as pontes foram todas serradas… apenas a linha de comboio se encontra intacta mas já sem nenhum comboio em circulação. Porque será que este comboio desapareceu? Afinal de contas já desapareceram tantos de tamanho real… será que é mais uma vítima dos vícios do mundo?

Só a brincar com o olhar é que nos podemos levar a mergulhar no que pode nunca ter acontecido ou até no que nunca poderá vir a acontecer. Flutuamos entre o universo infantil de de aviões e comboios miniatura e o sonho acordado de uma grande cidade num circuito electrónico… é nessa escala que voltamos a encontrar o que há de mais humano em nós: a imaginação. Enquanto motor da criatividade é ela que em alguns se mantém viva e noutros se afoga nas preocupações do quotidiano. É nesse espaço de liberdade que simulamos e ensaiamos vivências, produções e futuros alternativos. Na maqueta está muito mais do que um plano. Porque o modelo dá forma ao mundo que vamos construindo e preenchendo com sonhos, memórias e prazeres.

Manuel Furtado, 2016

 


 

Biografia resumida:

Miguel Palma nasceu em 1964 em Lisboa, onde vive e trabalha actualmente. Expõe regularmente desde o final dos anos 1980. O seu percurso artístico, de base escultórica, é marcado por instalações produzidas de forma não tradicional. Trabalha frequentemente em grupo com equipas de engenheiros, mecânicos, carpinteiros e biólogos, entre outros especialistas. O seu trabalho tem um carácter híbrido, ligado à produção industrial do século XX. A obra de Palma aborda frequentemente o modo como a tecnologia tem influenciado a vida do homem moderno, a sua relação com o ambiente, a ideia de conforto humano ou a ideia de poder.

Paralelamente à construção de instalações, de grande e média escala, recorre frequentemente ao desenho, ao vídeo, à performance, à construção de miniaturas dos seus projetos e de livros de artista.

Desde 2007 que participa regularmente em residências em diferentes espaços artísticos, tais como: Location One (EUA), International Studio & Curatorial Program (EUA), Headlands Center for the Arts (EUA), Montalvo Arts Center (EUA), Arizona State University Art Museum (EUA), voyons voir | art contemporain et territoire (França), Association Château de Servières (França), 18th Street Arts Center (EUA) entre outras.

 

http://www.miguel-palma.com/