30 de Novembro – 5 de Janeiro Ângela Dias | Entre Presenças
… afirma que a utopia se realizou, por assim dizer, por si mesma e que o limite entre a cultura e a realidade se apagou.
Du Nouveau – Essai d`économie culturelle, Boris Groys, pág. 104 -105
A exposição Entre Presenças prende-se com a referência do “valorizado e do profano”, segundo extractos da obra de Boris Groys referida acima. O valorizado representa-se com um contexto histórico formador de normas e cânones e o profano refere-se ao quotidiano, ao acaso e à experiência individual e única.
A imagem valorizada pela referência à História Universal encontra-se então em diálogo com a imagem do pensamento, da realidade, da vida e do inconsciente que fazem apelo a qualquer coisa de diferente da cultura, para além da cultura e por consequência a qualquer coisa de profano:
… A sinceridade enquanto posição pertinente do ponto de vista cultural é o resultado de uma percepção tão precisa quanto possível da evolução do limite entre o valorizado e o profano num dado momento.
Du Nouveau – Essai d`économie culturelle, Boris Groyspág. 124
Passando para um outro elemento presente nesta mostra, temos a palavra escrita. Esse texto suscita imagem, tem um efeito de duração de tempo diferente do tempo que a imagem produz. Surge assim a “imagem como presença sensível bruta”1 e o texto como discurso que cifra uma imagem invisível. Existe nestas peças uma articulação entre o visível e o que a palavra lida faz ver, permitindo a existência de dois tempos diferentes.
Criei múltiplas relações entre a série de livros A Arte nos Séculos e o momento presente, repleto de acontecimentos sociais, e criando uma tensão nova com a presença do individual. Isto permitiu-me fazer referência à memória colectiva, seguindo o princípio das revelações estéticas dos vários pólos culturais referidos nesses livros, tais como: o Antigo Egipto, a Arte Greco-Romana, Etrusca, Cretense e Africana. Este encontro de referências surge de uma intenção de criar uma linguagem universal, assim como promover encontros entre culturas diferentes.
Ângela Dias
(1) Ranciére Jacques: O destino das imagens, pág 200.
Ângela Dias nasceu em 1976. Vive e trabalha em Loures e Lisboa. Frequentou e concluiu o Plano de Estudos Básicos de Pintura; o Curso Avançado de Artes Plásticas e o Projecto Individual em Desenho no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual, em 2011.Frequentou e concluiu o Curso de Teoria e Prática da Pintura e Curso de Desenho na ArteIlimitada, Lisboa, em 2005. Participou em diversas exposições colectivas desde 1997, de que se destacam (selecção):
- Períplos / Arte Portugués de Hoy, Museo y Centro de Arte Contemporânea de Málaga, 2016
- Regresso ao Acervo + Jorge Queiroz, galeria João Esteves de Oliveira, Lisboa, 2015
- SSS, do Colectivo Est Secum, Rua do Crucifixo, Lisboa, 2013
- Do Sagrado Na Arte – Evangelhos Comentados Por Artistas, Convento de S. Vicente de Fora, Lisboa, 2014
- Dois em Um, galeria João Esteves de Oliveira, Lisboa, 2013
Fez as suas exposições individuais Geometrias ou Impressões dos deuses na Livraria Sá da Costa, em 2017 e Ab Manu (à mão), no Museu Geológico de Lisboa, em 2016.
Está representada na Colecção do Ar.Co e na Colecção Figueiredo Ribeiro.
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Ângela Dias | Entre Prenças
Produzido por MUTE, Dezembro de 2017