26th October24 de November 2017

Vera Carmo | Difácil

 

Passa uma borboleta por diante de mim

E pela primeira vez no Universo eu reparo

Que as borboletas não têm cor nem movimento,

Assim como as flores não têm perfume nem cor.

A cor é que tem as asas da borboleta…”

Obras Completas de Fernando Pessoa
Poemas de Alberto Caeiro

 

Desde muito cedo tentei pintar a música enquanto a escutava. Procurei sempre achar o seu equivalente através da cor. Na pintura são as cores que explicam e criam a realidade. Para começar este trabalho, foi portanto natural mergulhar na teoria da cor, para procurar entender a forma como se relacionam, a sua qualificação em cada contexto específico e o impacto que têm no observador.  Independentemente da sua relevância o estudo científico da cor é limitado dado que explora com pouca profundidade os vários tons e as suas relações particulares. Os contextos também podem ser tão específicos que a teoria deixa de se aplicar, por exemplo: uma cor que de acordo com a teoria é fria quando se encontra junto de outra já pode parecer quente. Foi por isso que escolhi embrenhar-me num “estudo” empírico e subjectivo da cor, como a sinto e a vejo. Para essa investigação a vibração e a luz do óleo pareceram-me essenciais.
O círculo é o todo, revela tudo o que é. As imagens com este formato dão-nos a ideia de que podemos continuar até ao infinito a ver novos tons, novas relações entre cores mas com o mesmo “grau de luz”, assim como nos mostram um “centro” que é a origem de toda a cor e de toda a luz. É como se o centro, o ponto de origem de tudo, estivesse constantemente a emanar diferentes vibrações, ondas, cores e suas tonalidades. Como se cada pintura, representasse um instante de um acontecimento: todos representam o mesmo, mas em tempos distintos e é daí que  nasce a dinâmica do painel. No trabalho vê-se como certas cores parecem raios de luz que iluminam tudo o resto, quase imateriais, enquanto outras a fecham e se tornam mais terrestres. A cor abre-se numa paleta que cria dimensões em si, umas mais concretas outras mais celestiais. A dinâmica que se cria quando se “joga” com ambas une o que está em cima ao que está em baixo.
À medida que esta sequência de pinturas foi crescendo começaram a aparecer mais feixes de uma só tonalidade… Começou a acontecer um movimento criado pelo facto da luz ir encontrando aberturas através do painel. Embora o círculo tenha começado a perder a sua definição, o centro, pelo contrário, manteve-se sempre como defenidor da imagem.
Os trabalhos a pastel de óleo, sairam do “círculo perfeito” e isso permitiu-me abrir a outras possibilidades. Embora tenha aberto horizontes novos a forma geométrica ficou mais rígida, mais estática…


Biografia Resumida:

Vera Carmo (Lisboa, 1976)

No 12º ano frequentou um curso de desenho de modelo no Ar.co. Entrou na Faculdade de Belas Artes de Lisboa e tirou Artes Plásticas – Pintura. Simultaneamente frequentou Pintura e História de Arte na S.N.B.A. que terminou em 1999. No ano 2000 participou na exposição colectiva dos finalistas da FBAUL, “A second 2b…” na Estufa Fria, Lisboa. Deu aulas no ensino público e aulas de pintura para crianças numa escola privada. Em 2005 participou na exposição do concurso de Pintura e Escultura Artur Bual, na Amadora. Fez uma exposição individual de pintura na Biblioteca do Hospital de S. José, em Lisboa (2007) e uma exposição individual “Primeiro foi a galinha…” na Galeria Casa da Avenida, em  Setúbal (2016).


<h3>Vera Carmo – Difácil</h3>
Novembro 2017

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