de 21 de Junho a 20 de Julho     Simão Costa | Null Allele and frequency

Alelo nulo é uma cópia não funcional de um gene causada por uma mutação genética. Estes objetos de arte são sobre cópia. Eles são desinteressados de função. São ideia, comportamento ou estilo que se propaga. O meio de propagação é o comportamento gerado no hospedeiro anfitrião. Por favor, sê um bom hospedeiro. Estes objetos sugerem o fim da separação entre aquilo humano e aqueloutro natural.

Simão Costa

Parte 1/2  |  Touch don’t watch

Inside it  |  Dentro da coisa:

Esta obra pode e dever ser tocada, mesmo correndo o risco de transformar a obra em instrumento.

Inclui Órbita: app de smartphone da autoria de Rui Madeira

Desdobadeira:

São linhas tortas de tempo, desta feita esticadas, desdobadas. A desdobadeira pode e dever ser tocada, mesmo correndo o risco de transformar a obra em instrumento.

Parte 2/2  |  Watch don’t touch

Célula 1   |  mãe d’água:

Elemento ondulatório num plano. Evocação de formas vivas.

Célula 2  |  2×440 + imponderáveis:

Elemento em processo de cópia / duplicação – é altamente susceptível ao meio ambiente aéreo/ sonoro. qualquer som lhe transforma a condição inicial.

Célula 3  |  d’água:

Elemento ondulatório em linha sem homeostase visível.


Nota Biográfica:

Simão Costa nasce em 1979. É músico, pianista e sound artist. Vive e trabalha em Lisboa.

O seu trabalho é sobre o SOM na sua dimensão fenomenológica, preceptiva, visual, cultural… Está obcecado pelo SOM como material plástico, tangível e físico. 

Desenvolve desde 2004 trabalho como autor (artista, compositor, improvisação e código) a solo e em colaboração com músicos, artistas visuais, performers, actores, encenadores, bailarinos e coreógrafos. Podemos portanto encontrar o seu trabalho em palco, em disco, em código, numa galeria, no museu e na rua.

O seu trabalho foi apresentado em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Polónia, Holanda, Reino Unido, Itália, Suécia, Brasil, Chile e Uruguai.

simaocostamsm@gmail.com


Em conversa com Simão Costa resolvi fazer um resumo do mais relevante para esta folha de sala:

O homem não está separado da natureza. Simão Costa como homem é natureza e o seu trabalho é uma continuação e o desenrolar da natureza numa espécie de cópia inevitável dos seus processos. Temos assim três palavras chave: código, genética e cópia. Do gene ao meme tudo é código copiado e inevitavelmente adulterado. Cópia é a replicação mas sempre com ligeiras diferenças, ou seja, um designer automático no sentido em que o design tem de surgir do próprio processo de cópia. A cópia que percepcionamos como original é portanto o entrecruzamento de apropriações e não importa se estamos a falar de ácidos nucleicos, programas de computador, conceitos e ideias que copiamos do nosso contexto cultural ou objectos de qualquer tipo. Somos um meio de cultura onde tudo cresce e se multiplica.

Também podemos sentir nesta exposição uma arqueologia do digital no sentido de que a obsolescência é intensificada por uma percepção temporal acelerada e uma disfuncionalidade total a curto prazo, tanto a nível de hardware (ver i-phone 3 em Inside it | Dentro da coisa) como de software (é disso exemplo Órbita: uma app cujo o código já não pode ser comprado e cujo autor é Rui Madeira).

Finalmente identificámos duas tensões interdependentes e relacionadas com a exposição anterior de Simão Costa na MUTE (Cinestesia): a tensão entre a obra e o instrumento e entre ver e ouvir. Tradicionalmente não se toca numa obra e portanto limitamo-nos a ver para não a destruir. Mas a impermanência destes trabalhos não se prende com a sua conservação material e consequentemente alguns devem ser tocados, dessacralizados e parcialmente instrumentalizados. 

Manuel Furtado