28 de Maio a 27 de Junho de 2015

cons·truc·to |ct|

(inglês construct, do latim constructus, particípio passado de construo, construir)

Construção mental ou síntese feita a partir da combinação de vários elementos. Em outras palavras, se nos abstrairmos da ideação, que é um processo particular do cérebro, e da comunicação, que é um processo físico e social específico, obtemos constructos: conceitos (nomeadamente predicados), proposições e sistemas de proposições, como por exemplo teorias.  As ciências formais (matemática e semântica filosófica) estudam os constructos e propriedades conceptuais como se fossem autónomos, mas sem necessariamente supor que existem, o que é um princípio fundamental do idealismo. (Wikipedia.es)

Rodrigo Tavarela Peixoto sintetiza muito do que sente no seguinte comentário: “Por vezes penso que travo uma batalha com a fotografia, com o programa inserido na escuridão da máquina. Uma luta com toda a aparência útil que a fotografia encarna, com a instrumentalização seminal do aparelho pela ilusão do conhecimento, pela vertigem da possibilidade de medir um mundo que julgamos ser o que conhecemos.”

Nesta mostra são apresentadas duas séries de trabalhos que têm uma relação íntima com o vernacular da imagem fotográfica em tudo o que ela tem de científico e descritivo. Esta cientificidade implícita expande-se para o texto, quase como se as fotografias pedissem ou gerassem informação escrita complementar. Isto justifica o facto de a palavra escrita passar a pertencer ao mesmo campo da imagem fazendo parte dela.

Na primeira série, a preto e branco, Rodrigo apresenta-nos um conjunto de textos científicos que alterou em função da imagem (por ele criada) com a qual os combina. Essa manipulação do texto pretende construir uma relação com a imagem por um lado verosímil e por outro menos óbvia do que o texto por ele encontrado. Isso torna a informação escrita surpreendente e desconcertante até para um especialista da área do artigo ou livro original. É assim criada uma sensação de ignorância no observador que corresponde de facto à sua verdadeira condição (a ignorância inevitavelmente universal).

No trabalho a cores da segunda série o artista inspira-se em Alphonse Bertillon, um criminologista/fotógrafo Francês muito influente que criou o sistema de identificação fotográfica policial. Nesta sequência de imagens Rodrigo desconstrói o mito da objectividade fotográfica que surgiu devido à condição da fotografia como um método de reprodução automática da realidade. Para isso adapta a metodologia  de Bertillon a estátuas banais, sem autor, de homens que de facto existiram, para medir e comparar as figuras históricas representadas. Completando esse processo com as proporções clássicas, tão bem definidas na antiga Grécia, o artista procura activamente retirar ilações ridículas de todas estas relações e medições.

Rodrigo diz-nos ainda que “A fotografia foi palco de alguns dos maiores equívocos da cultura ocidental, serviu (e serve) para identificar populações, hierarquizar indivíduos, prever acontecimentos, sempre com base na imagem que a máquina capturou.”

 


 

Rodrigo Tavarela Peixoto (Lisboa 1974), é um fotógrafo português, que expõe regularmente desde 1999, ano em que terminou os seus estudos no Ar.Co. Em 1999 recebeu uma bolsa da FLAD que lhe permitiu continuar os seus estudos na School of Visual Arts em Nova Iorque. Em 2010 concluiu o Mestrado em Artes Plásticas na ESAD.CR.

As suas fotografias estão representadas em algumas das mais importantes colecções portuguesas, como a coleção PLMJ, BES Arte, e Fundação EDP, e diversas colecções privadas.

De entre as suas exposições Individuais, destacam-se “Aparelhos Breves”(2009) Galeria Sopro – Lisboa, “Anima” na galeria BangBang – Lisboa (2013), “Potência (Trabalho/Tempo)” (2014) Centro de Arte e Imagem, Tomar, e das coletivas “Mostra” (2005), Fundação Calouste Gulbenkian – Lisboa, “Processo e Transfiguração” (2010), Casa da Cerca – Almada, “A imagem das palavras”, Centro de Artes de Sines – Sines.