de 7 de Dezembro a 5 de Janeiro

 

             

«O cristal é um sólido formado por arranjos internos de átomos e moléculas regularmente repetidas, e distingue-se pelas suas faces externas. As suas partículas assumem formas geométricas, tais como arestas, ângulos e planos, directamente ligadas à sua malha elementar. (…) um jogo entre as linhas, os planos e os materiais dando forma ao espaço, gerando um lugar de relações, de superfícies e vazios – tensões que se mostram sem se materializar (…)»

Sara Antónia Matos

In «Entre as fissuras da estrutura mineral»

 

Em geologia, uma intrusão é um corpo de rocha ígnea que se cristalizou no interior da crosta terrestre. Essas rochas são também denominadas intrusivas.

Os minerais, os planos da sua estrutura interna, provocam um acumular de superfícies que forçam o seu lugar. Essas superfícies são trabalhadas através de um jogo de dialécticas de verticalidades e horizontalidades de várias camadas de tinta, que actuam como camadas de tempo.

Nos trabalhos sobre papel, essas camadas de tinta são produzidas de forma a desconstruir a própria noção de espaços de enquadramento havendo uma fragmentação/ruptura desses mesmos enquadramentos.

Uma sequência de planos de cor e textura construídos de dentro para fora cria um espelhamento e projecta o outro para dentro.

 

Paula Prates, 2016

 


 

1 in·tru·são (latim intrusio, -onis, de intrusus, -a, -um, particípio de intrudo, -ere, forçar, empurrar)
substantivo feminino
1. Acto de introduzir-se (com astúcia ou violência); intromissão.
2. Usurpação; posse ilegal.
3. Forçar; empurrar.
4. Geologia: introdução de matéria magmática no interior da crosta.
5. Geologia: corpo eruptivo que se instalou no meio de outras rochas.

 

Neste corpo inédito de trabalho Paula Prates explora a pintura de uma forma analítica, decompondo-a nos seus elementos mais fundamentais. Para isso torna cada pincelada um acto consciente e independente garantindo assim que até a mistura de cores só acontece por sobreposição. Apesar de todo o controlo exercido pela artista há sempre uma tensão entre a ordem e o caos tanto a nível de composição como a nível das cerdas do pincel que se agregam e separam gerando diferentes padrões de pincelada. A transparência da tinta acrílica apresentada em camadas discerníveis não só nos revela o processo de criação como nos obriga a observar o tempo, a repetição e a estrutura microscópica de uma pintura tremendamente ampliada.

Toda a aparente leveza formal, que é conferida pela alegria na forma de luz e cor, contrasta com este conceito de controlo do gesto pictórico consciente e da definição de uma pintura que se analisa a ela própria explicitando a origem de diferentes densidades através de velaturas que se somam sequencialmente às anteriores. Tal como os átomos de um cristal que cresce por repetição em torno dos centros de nucleação transformando a matriz primordial num padrão, as obras apresentadas por Paula Prates crescem através de interpenetrações, desenhos definidos por ausência e fundos que não sendo brancos contêm os elementos necessários ao crescimento destas estruturas inorgânicas mas quase vivas.

Multiplicam-se na imaginação do observador as cores refractadas nas superfícies reflexas das pirites do Museu Nacional de História Natural que povoam o nosso imaginário infantil mas é no conhecimento mais elaborado que encontramos o rigor de uma construção por vezes anamórfica mas que nos impõe uma perspectiva anamorfoticamente relevante. Nas semelhanças encontramos diferenças. Nas diferenças as semelhanças.

Manuel Furtado, 2016

 


 

Biografia de Paula Prates (Almada, 1975), vive e trabalha em Lisboa. Licenciou-se em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa em 2000 e tirou o Mestrado em Artes Visuais pela Central Saint Martins, College of Art and Design de Londres em 2003.

Expõe regularmente desde os finais dos anos 90. As suas exposições individuais foram: Pregas, fissuras e mundos paralelos (Galeria Bangbang, 2015); Ensaio sobre a Ruína – Parte 2 (Espaço megarim-adn); Ensaio sobre a Ruína (Espaço Round the Corner) e Clivagem (Galeria Sopro, 2011); Intervenção pictórica, instalação site-specific, Fábrica Braço de Prata (2010); o caos-nuvem (Galeria Sopro, 2009); a different view, (Voyeur Project View, 2008); Good Time, Sala ZOOM, (Galeria Carlos Carvalho, 2006). Participou em diversas exposições colectivas, das quais se destacam: Diáfano, Galeria Bangbang (2015); Landscape, Galeria Bangbang (2014); White Garden, Pavilhão 28 (2010), Cabinet d’Amateur, Sala do Veado 1990/2010 (2010); Estruturas 1:1, Sala do Veado (2009), Drawing by Numbers, Espaço Avenida 211 (2009); Private Office, Espaço Avenida (2007); Paisagens e Arquitecturas, Galeria Sete (2005); E=mc², Museu Nacional da Ciência e da Técnica (2005); Touch & Go, Space 44 (Londres, 2003).

Recebeu em 2008 uma Menção Honrosa em Desenho, na 1.ª Bienal Internacional de Artes Plásticas – IX Prémio Vespeira. O seu trabalho está representado na Colecção da Fundação PLMJ, na Reitoria da Universidade de Lisboa, na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e em colecções particulares.