4 de Agosto a 3 de Setembro de 2016

 

Em Surrogate Daydreams são apresentadas uma série de esculturas interactivas e conceptuais, que exploram as tensões e ansiedades da Era da Informação contemporânea. Estes trabalhos incluem materiais naturais, ferramentas industriais e tecnologias digitais, oferecendo ao público experiências participativas que investigam o impacto de uma vida em rede a múltiplos níveis: relações, criatividade, identidade e inconsciente.

Margaret Noble, 2016


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             Texto por Manuel Furtado:

               Nesta exposição cyborg em que Margaret Noble dá vida a matéria inanimada através da tecnologia, podemos falar de obras que prolongam a vida íntima da artista para um espaço partilhado com o outro. Tendo o trans-humanismo1 bem presente é estabelecido um paralelo entre o virtual/digital e o inconsciente, por oposição à vivência no mundo real/analógico e o consciente. Nesse espírito psicanalítico podemos dizer que o grilo que encontramos em Post Life Repository representa a própria sound artist, ex DJ, a sua relação com a morte e com a internet enquanto arquivo eterno. Mas esse é apenas um dos casos em que Noble estrategicamente materializa os seus medos para os conseguir gerir e controlar (como é o caso de Index of Fear) ou onde projecta as suas aspirações (como por exemplo em Scrolling Screens, Surrogate Daydreams, onde nos pretende levar a sonhar acordados – actividade cada vez mais rara devido à hiper-estimulação tecnológica a que estamos sujeitos).

               Uma análise mais atenta pode levar-nos a notar a presença da forma oval (nomeadamente em Cerebral Departures) que é uma representação do ovo e que por sua vez simboliza a origem e a criação de vida. É nesse plano que a artista se coloca (e coloca o próprio observador activado) enfrentando a morte com a “magia tecnológica” que simbolicamente nos permite contactar com os mortos através de um tabuleiro de espiritismo como acontece em A Shit Pile of Lights and Sounds for Your Pleasure.

               Concluindo Noble tal como o Dr. Frankenstein cria vida a partir da morte materializando os seus maiores receios e vendo-se obrigada a enfrentar cada um dos grandes mistérios e perigos da vida e da humanidade tendo como arma a tecnologia e a imaginação.

[1] Trans-humanismo (definição da Wikipedia): é um movimento internacional e intelectual que visa transformar a condição humana do desenvolvimento e criação de tecnologias amplamente disponíveis para aumentar consideravelmente as capacidades intelectuais, físicas e psicológicas humanas. Pensadores Trans-humanistas estudam os potenciais benefícios e perigos de tecnologias emergentes que poderiam superar limitações humanas fundamentais, bem como a ética do uso de tais tecnologias. A tese mais comum é que os seres humanos podem, eventualmente, ser capazes de se transformar em diferentes seres com habilidades tão grandemente expandidas a partir da condição natural de modo a merecer o rótulo de pós-humano.

Manuel Furtado, 2016


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            Biografia:

             Margaret Noble nasceu no Texas e cresceu na Califórnia. O seu trabalho interdisciplinar cruza-se entre o som, a escultura, a instalação e a performance. Licenciada em Filosofia (University of California, San Diego) e com Mestrado em Sound Art (School of the Art Institute of Chicago).

A sua produção artística tem evoluído para a escultura e para a instalação, influenciada pelo interesse na memória, história, narrativa e identidade. O trabalho de Noble foi destacado pela KPBS, PRI, Art Ltd Magazine, Wired Magazine, San Diego Union Tribune e San Francisco Weekly. Foi premiada por: International Governor’s Grant, o Hayward Prize e pela Creative Catalyst Fellowship. As suas residências artísticas incluem o MAK Museum em Viena e a Salzburg Academy of Fine Art. Teve exposições individuais no Museum of Contemporary Art San Diego e no Ohrenhoch der Geräuschladen Sound Gallery em Berlim.

http://www.margaretnoble.net/

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