de 12 de Janeiro a 11 de Fevereiro

 

 

Sobre esta exposição o artista escreve o seguinte:

           Nas sociedades ocidentais há muito tempo que as  estátuas e monumentos têm sido os templos das nossas memórias. São espaços simbólicos de recordação e esquecimento, em que as sequências temporais de passado e presente são continuamente recombinados. Estes signos mnemónicos representam um sistema de experiências passadas (a que habitualmente chamamos de memória) e de experiências presentes (que incluem o processo de relembrar experiências passadas). Estas estátuas produzidas pela nossa cultura ou trazidas de outras diferentes, quando instaladas e apresentadas por instituições e profissionais especializados ocidentais, tornam-se condições essenciais à recuperação e comemoração do passado, ao mesmo tempo que fossilizam prácticas culturais e formas de recordar, prevenindo o surgimento de narrativas alternativas sobre o passado.

            Se os objectos, ocidentais e não ocidentais assumem formas e significados em diferentes períodos históricos, como é que estas mudanças afectam as nossas interpretações desses mesmos objectos e arquivos, locais e contextos, que narram os seus significados historicamente específicos? São os museus, arquivos ou outras estruturas para a produção de conhecimento no ocidente mais valorizados do que os processos culturais que dão origem a esses mesmos objectos? Como podem as formas de nos relacionarmos com esses objectos ser reinventadas? Baseadas em que sistemas de produção de conhecimento?

            Muitas culturas não ocidentais acreditam que os objectos que não são regularmente usados/tocados perdem todo o seu poder e potencial transformador. Fazedores de memórias diferentes como os museus e outras instituições ocidentais, preocupadas com a lógica da preservação e orientados para o poder em detrimento da memória, não dão atenção a estas relações entre corpos e objectos fazendo com que não seja possível o desenvolvimento de diferentes sistemas epistemológicos em simultâneo.

            Bitter Past. Bitter Kola. é um projecto de arte e pesquisa que analisa e performatiza estátuas distintas – uma estátua africana de madeira trazida de casa dos meus pais e outras esculturas de arte pública situadas em várias cidades portuguesas – baseando-se nessa crença de que os objectos têm de ser constantemente tocados para manterem todo o seu potencial transformador e portanto permitir que continuem a ser adicionadas memórias às nossas estórias colectivas.

 

 

            Declaração de intenções do artista:

            A minha práctica artística está centrada essencialmente em tecnologias colectivas e processos ligado ao acto de recordar. Interessa-me a forma como a memória colectiva e individual de determinados eventos é influenciada por essas mesmas tecnologias e processos. A maior parte dos meus projectos mais recentes procuram identificar as influências da História e do acto de “contar histórias” na formação da memória colectiva e autobiográfica. Centro, portanto, o meu trabalho em torno das razões que levam certas narrativas a ser parte da História enquanto outras são excluídas.

Márcio Carvalho, 2016

 

 


 

 

Biografia:

            Márcio Carvalho (Lagos, 1981) é licenciado na ESAD Caldas da Rainha e Mestrado na UDK, Berlim. Está sediado em Berlim há 8 anos onde trabalha como artista e curador independente. A sua obra resulta de trabalhos performativos, vídeo, fotografia e instalação, tendo sido apresentada em 4 continentes diferentes (Europa, América do Norte, África e América do Sul). Carvalho é o cofundador e curador do programa de performance CO-LAB Editions. No passado fundou a residência de artistas Hotel25 em Berlim, fez curadoria de festivais como Plot in Situ festival e iniciou o primeiro programa de televisão em Berlin dedicado a cruzamentos entre performance e actividades paranormais.

 

http://www.marcio-carvalho.com