de 10 de Janeiro a 7 de Fevereiro de 2019

 

“I have gathered a posy of other men’s flowers, and nothing but the thread that binds them is my own.”

– Michel de Montaigne

Para mim, colagem é uma estratégia de negociação no mundo moderno – uma ferramenta para uma descoberta intuitiva que não só tem em consideração a natureza global da informação, como usa uma abordagem analógica através do acto físico de cortar e de rasgar. As obras que compõem Sublime exploram a relação que nós temos com o que está à nossa volta e a nossa percepção das forças da natureza, expondo a fragilidade da condição humana.

A transformação do valor e da propriedade ocorre através da apropriação de material associado com a baixa cultura: revistas, cartazes publicitários e objectos recolhidos do contexto urbano local. A publicidade passa a alegoria, o desprezado é elevado e os pressupostos do material impresso são questionadas.

O trabalho mais proeminente e de maiores dimensões, The Garden (a manifold of micro-creative acts),  baseia-se no painel central do Jardim das Delícias de Hieronymus Bosch (c. 1450). O trabalho foi criado intuitivamente fazendo referência directa ao quadro original tanto a nível de forma como de composição enquanto brinca com o humor surreal de Bosch. À primeira vista o mundo é um campo de jogos. Os jogadores estão focados em si mesmos e na abundância de prazer que os envolve. Numa análise mais detalhada, encontramos peculiaridades que fazem referência a várias preocupações contemporâneas. A utilização da revista enquanto media quebra a barreira entre o observador e a obra de arte, transportando-se assim para o universo complexo do quotidiano. Qualquer ponto de vista moralista, como no Bosch original, é ambíguo e está fora do nosso alcance imediato.

Em tempos de mudanças culturais, confusão política e perturbação ecológica o trabalho nesta exposição funciona como libertação catártica – uma tentativa de síntese das emoções paradoxais que surgem da exposição constante a notícias catastróficas. Neste contexto, a noção de Sublime é uma referência que nos aponta um momento de consciencialização, um espaço de humildade onde a malha da existência comum é rasgada e a dialéctica entre euforia e incerteza é revelada. Jogando com diferentes percepções de escala e perspectiva, as lombadas das revistas podem ser vistas como pequenas paisagens; recortes circulares de revistas de viagem  sugerem-nos uma espécie de visão de túnel que perturba a coerência do sentido espacial do observador.

Com consciência da fragilidade dos media (tanto no sentido da comunicação em massa, assim como do medium do papel em si) a intenção desta exposição é relembrar-nos do tremendo peso do desejo. O que resta é a explosão contemporânea de uma realidade fragmentada que continuamente nos faz avançar para, no final, nos fazer regressar aos dilemas morais sempre presentes que fizeram de nós o que somos.

Bio

 

Nina Fraser (St. Albans, Hertfordshire, Reino Unido, 1984) completou a licenciatura (BA) Arte Textil com distinção na Winchester College of Art, Hampshire, Reino Unido em 2006. Foi a partir dessa investigação material que acabou por voltar a trabalhar directamente com papel. O trabalho de Nina vai buscar influências  ao design, pintura, colagem e à escultura, combinando habitualmente diversas técnicas num mesmo trabalho. Em 2008 co-funda um art cafe comunitário sem fins lucrativos em Southampton (UK) onde foi co-directora durante sete anos. Emigra em 2014 para Portugal, tornando-se artista residente na MArt Artist Studios em Lisboa de 2015 a 2017, participando em exposições colectivas, Escola das Linguas – Museu de São Roque, Campanha – Casa-Museu Medeiros e AlmeidaSem Escrupulos – 78/80 Galeria, e Escalas Desejantes – MNHNC. A partir de 2015 participou em exposições colectivas internacionais (Reino Unido, Portugal, Itália, Berlim, Eslovênia, Nova Iorque, Dublin e Savannah), e exposições individuais (Reino Unido, Portugal e Polónia).Tem trabalhos em coleções particulares no Reino Unido, Portugal, Estados Unidos, Alemanha, Austrália e Polónia. As suas colagens foram publicadas em revistas nos Estados Unidos, Itália, Londres, Espanha e Portugal, e para publicação em livro em Espanha e nos Estados Unidos.