13 de Agosto a 13 de Setembro

Declaração da artista:

Ser uma coleccionadora obsessiva levou-me a descobrir que existem infinitos detalhes ubíquos que permitem que um olhar sensível detecte a beleza das coisas simples em todos os lugares. Foi graças a esta obsessão que desenvolvi a paixão por capturar imagens e guardá-las.

Através de uma linha de investigação próxima da etnografia visual, usando a fotografia, exploro diversos detalhes de uma sociedade num ambiente quotidiano. Procuro registar a realidade subtil da existência de forma sensível e simples.

Com os títulos que atribuo a cada imagem pretendo expandir a sua dimensão poética, num tom tanto concreto como paradoxal, evidenciando assim o humor e a ironia como parte integrante e relevante da existência.

Recorrendo à cidade com uma atitude de flâneur[1] calcorreio as ruas sem rumo, aberta a todas as possibilidades e camuflando-me mergulho nas cidades com uma atenção antropológica. É assim que capto as expressões de transeuntes, prestando especial atenção aos momentos inesperados e insólitos. Parte do anonimato é conseguido graças ao uso de câmaras fotográficas pequenas e leves que permitem não perturbar o que me rodeia e registar as pessoas de forma natural e fluida.

 O título Portuñol remete para a mistura da língua portuguesa e espanhola que serve de metáfora para as conquistas e reconquistas de espaço alheio e que no fundo correspondem a uma mimese/fusão linguística, cultural e visual, em suma, a definição de um território comum. Esta mostra é uma colecção de 22 imagens fotografadas no Chile, Brasil e  Portugal. Nelas apresento personagens quotidianas frequentemente em momentos de descanso ou relaxamento. O que pretendia era registar a espontaneidade da acção contextualizada por uma envolvência urbana. A obra ¿Es realmente posible? (2011) evidencia a contradição entre paisagem e personagem, de onde retiramos a dissociação gritante entre dizer e fazer.

 

[1]  Definição de flâneur de Charles Baudelaire
” A multidão é seu universo, como o ar é o dos pássaros, como a água, o dos peixes. Sua paixão e profissão é desposar a multidão. Para o perfeito flâneur, para o observador apaixonado, é um imenso júbilo fixar residência no numeroso, no ondulante, no movimento, no fugidio e no infinito. Estar fora de casa e contudo sentir-se em casa onde quer que se encontre; ver o mundo, estar no centro do mundo e permanecer oculto ao mundo, eis alguns dos pequenos prazeres desses espíritos independentes, apaixonados imparciais, que a linguagem não pode definir senão toscamente.” (…)

 


 

 

Texto de Felisa Perez:

(…) Vamos juntos  /  bailando por el mundo, / derribando las flores / del manzano, / entrando en las ventanas, / silbando juntos, / silbando / melodías / de ayer y de mañana, (…)

Pablo Neruda, Oda al Aire

 

PORTUÑOL é a primeira mostra de Eve Contreras Verdugo em Portugal e foi proporcionada pela MUTE através do seu programa de residências artísticas e de exposições temporárias que visa, entre outros aspetos, criar um terreno de partilha entre artistas estrangeiros e nacionais.

¿Es realmente posible? (2011) – é a imagem de abertura desta exposição que revela a sensibilidade do olhar desta fotógrafa Chilena. Captada na capital do Chile, Santiago, a imagem carrega uma forte componente dramática e aproxima-nos de questões sociais, políticas e económicas transversais a todas as sociedades contemporâneas. Inquiridoras e desafiadoras, as fotografias de Eve geram um diálogo único entre o Chile, o Brasil e Portugal e abrem campo a diversos significados. Não menos importantes, são os títulos que acompanham cada uma das imagens e que denotam uma subtileza e ironias delicadas, marco característico da observação latino-americana, em geral, e chilena, em particular.

Música, Poesia, Arquitetura, Passado, Presente e Futuro, cruzam-se nas fotografias de Eve Contreras Verdugo, gerando um diálogo profícuo entre diversas disciplinas. Para lá do rigor técnico e formal da Fotografia, Eve foca-se na espontaneidade dos momentos, na riqueza do acaso e na beleza da simplicidade. São exemplo disso as fotografias Seis Amigos (2015), Curiosidade en Azul (2013) ou Canto a las 3 Marías (2010). No caso de Miti Mota (2013) e Passado entre o Presente (2015) são a luz e a cor o que inspira a fotógrafa que gera imagens de uma plasticidade que nos aproxima do campo da Pintura. A passagem pelo Brasil permite-lhe captar a cultura de um país livre – bem diferente do Chile conservador de onde vem – e é essa liberdade que Eve capta em Dança da Alegria (2013), onde o movimento e a cor dominam a composição. Em Portugal, Eve descobre a Europa e Lisboa recorda-lhe Valparaíso. Regista momentos como aquele que apresenta em Pombeado (2015) e recorda o lirismo de Neruda numa Oda al Aire (2008).

 


 

Eve Contreras Verdugo (n. 1981, Ovalle, Chile) Estudou Arquitectura na U.L.S (Universidad de La Serena) e Design Industrial na U.TE.M. (Universidad Tecnológica Metropolitana) no Chile.
No Chile participou em múltiplas exposições colectivas, tal como a 5th Annual Exposure Award “City and Beyond Collection” que foi apresentada no Museu do Louvre, Paris, em Julho de 2015. Neste momento Eve também participa na Exposição “Espacios del Habitar” no Centro Cultural Palace em Coquimbo, Chile.

Prémios:
2014: 1º lugar Concurso Fotográfico “PatrimonioAlmagro” de Inmobiliaria Almagro, Santiago, Chile

2012: 1º lugar Concurso Fotográfico “Inmortalízate” de Panasonic y Rockaxis, Santiago, Chile
2009: M.Honrosa Concurso Fotográfico “Rescate de la Memoria” no Colegio de Arquitectos, Chile